Uma das características do texto bíblico hebraico é a riqueza de linguagem alegórica.
Existem bons exemplos nos livros de Ezequiel, Salmos e Profetas Menores.
Cantar de Cantares não se tornaria um livro canônico se não fosse entendido como uma alegoria sobre a relação de D'us e o seu povo.
Existem bons exemplos nos livros de Ezequiel, Salmos e Profetas Menores.
Cantar de Cantares não se tornaria um livro canônico se não fosse entendido como uma alegoria sobre a relação de D'us e o seu povo.
Definição de Alegoria
Uma alegoria na interpretação bíblica busca um entendimento mais profundo por trás das imagens simbólicas. No relato, o seu significado está para ser descoberto.
Na definição de Heráclito no século I D.C.: "é uma palavra, frase, oração ou verso que diz uma coisa mas que significa outra". (Alegorias de Homero 5.2). Trifon, um precursor de Heráclito, foi ainda mais claro: "a alegoria é um enunciado, que se bem literalmente significa uma coisa, mas na realidade evoca outra. ( De Tropis 1.1).
A Parábola
A parábola é outro gênero literário comum na Bíblia que se distingue da alegoria por ser mais simples e incluir um relato que efetivamente poderia ter ocorrido. As parábolas podem ser desconcertantes. A diferença entre uma alegoria e uma parábola é que esta busca explicar ou ensinar mediante um relato ilustrativo e aquela usa linguagem simbólica até com objetos inanimados.
O vale de ossos secos em Ezequiel 37.1-14 é um exemplo de alegoria. É um relato surrealista de ossos muito secos, um profeta que fala e alguns acontecimentos de caráter sobrenatural que levam à ressurreição deles. No versículo 11:
"וַיֹּאמֶר אֵלַי בֶּן־אָדָם הָעֲצָמוֹת הָאֵלֶּה כָּל־בֵּית יִשְׂרָאֵל"
" E logo me disse: Filho do homem, estes ossos são o povo de Israel"
Portanto, num significado mais profundo, pode-se entender corretamente que o texto explica a restauração de Israel. Destaca assim que o que pode ser impossível acontecer, acontece. Se o relato textual estivesse de forma direta, como por exemplo: "Israel será restaurado após ser dado como extinto.", não traria o impacto, o despertar dos sentidos que a alegoria e a parábola buscam.
Um fato importante que traz algumas dificuldades nas interpretações: o uso de frases alegóricas de hábito comum do mundo antigo.
Assim como hoje usamos termos como "chutar o balde" ou "pisar na bola", que não devem ser entendidos literalmente, na linguagem hebréia vemos várias expressões de estilo do mundo antigo.
O versículo em questão ( Gênesis 24.2):
וַיָּשֶׂם הָעֶבֶד אֶת-יָדוֹ תַּחַת יֶרֶךְ אַבְרָהָם אֲדֹנָיו
"E seu servo colocou a mão sob a coxa ( ierer') de Abraão (seu) senhor."
A palavra coxa יֶרֶךְ
também traduzida para extremo, extremidade ou parte posterior é o mesmo radical usado em Gênesis 32.33 quando Jacó, lutando com um anjo, teve o nervo de sua coxa (ierer') deslocado.
No caso desse último, o nervo deslocado ("guid ha-nashe") trata-se do ciático, o maior da extremidade inferior, descendo pela parte anterior da perna.
Continua no post sobre o nervo ciático de Jacó.
Prof. Gláucia Vilela