A Bíblia registra a formação da nação de Israel numa época de contínuas guerras no Mundo Antigo pela colonização de terras desapropriadas no Oriente. Os limites e os domínios dos povos ainda estavam em definição e os grandes Impérios se estabeleciam ainda através de seu poder bélico e organização militar.
Era comum também a formação de alianças entre reinos para dominar outros ou para o fortalecimento de seus poderes - ex: guerra de quatro reis contra cinco em Gênesis 14.1-17. Os reis faziam também grandes acordos através de casamentos entre membros da família real.
Israel, um povo separado, recebeu a orientação de crescer sem seguir os protocolos políticos de alianças com as outras nações. Embora não tenha obedecido cabalmente - e isso lhe rendeu um exílio de 70 anos e grandes problemas na sua demorada formação como nação - estava escrito na Lei:
"Não farás alianças com elas, nem terás piedade delas. Não te aparenterás com elas. Não darás tuas filhas e seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos, pois elas afastariam o teu filho de mim, para servir a outros deuses, e a ira do Senhor se acenderia contra vós e vos destruiria rapidamente."
Deuteronômio 7.2-4
Deuteronômio 7.2-4
A guerra era o único meio que Israel podia usar para estabelecer o seu território e protegê-lo. Porém, o exercício bélico teria que seguir também algumas regras para que pudesse ser bem sucedido.
A primeira e grande lei de guerra de Israel, e que não poderia ser desobedecida em hipótese alguma, está em Levíticos 20.10-12
"Ao marchar contra alguma cidade para combatê-la, propor-lhe-ás paz... Se ela recusar a paz, e preferir a guerra, então a sitiarás."
David, um especialista em guerras, sabia da gravidade da desobediência dessa lei espiritual:
"se paguei com o mal a quem tinha paz comigo, ou sem causa despojei o meu inimigo, então persiga o inimigo a minha alma e alcance-a..." Salmos 7.4-5
Isso quer dizer o seguinte: nunca faça guerra contra quem está em paz contigo.
A lei reforça ainda que na prática divina, toda forma de ira sem motivo contra o próximo é digno de julgamento.Ela condena:
1. o furto, a mentira e o falso testemunho (Levíticos 19.11-12)
2. a opressão, o roubo e o não pagamento de um funcionário no dia certo (Levítico 19.13)
3. a maldição sobre os deficientes físicos (Levíticos 19.14)
4. o julgamento tendencioso em favor do mais influente (Levítico 19.15)
5. a propagação de mexericos e a conspiração contra a vida do próximo. (Levítico 19.16)
A observação mais importante desse trecho de Levíticos 19 é que a propagação de mexericos é nivelada à conspiração contra a vida do próximo, considerada falta gravíssima e comparada à desobediência do sexto mandamento: "não matarás".
"Não conspirarás contra a vida do teu próximo...mas amarás o teu próximo como a ti mesmo."Levíticos 19.16
Na análise hebraica de Deuteronômio 5.17:
לֹא תִרְצָח
"Não cometerás homicídio"*
o verbo תִרְצָח é usado também para "assasinar", ou "cometer homicídio", como um fato isolado contra um indivíduo e não em situação de defesa e ataque de uma nação em guerra.
O verbo "matar", ou "causar a morte a", também nas definições do dicionário português é definido como destruir, fazer murchar,secar, apagar, extinguir, enfadar, afligir, mortificar, arruinar, desacreditar, fazer desaparecer. Todas essas ações contra o próximo são proibidas nesse mandamento, assim como ações contra a própria vida: suicidar-se, afadigar-se, sacrificar-se.
Algumas observações com relação à participação de Israel em guerras:
1. No mundo antigo, quando um povo começava a se formar, tinha logo que mostrar o seu potencial militar, como o fez Abrão em Gênesis 14, pois virava um ameaça para os outros povos.
2. Se os hebreus não organizassem o seu exército e seu desempenho bélico, seria atacado pelas outras nações e exterminado antes de sua definição como nação.
3. Assim, a guerra para Israel foi uma defesa de sua própria existência, e caso fosse aplicada contra alguma nação que recusasse paz, era protegido por leis bem definidas contra a união com culturas pagãs. Todos os vestígios de idolatria, despojo profano e qualquer ameaça de revanche futura deveriam ser exterminados.
Portanto, o sexto mandamento, "não matarás" não é aplicado em situações de guerra, quando sabemos que o inimigo não tem paz conosco e que é uma ameaça certa contra a nossa vida, dos nossos familiares ou nação.
Bibliografia:
1.A Torá Viva- Anotado por Rabino Aryeh Kaplan, Editora Maayanot,2003,SP.*
2.Dicionário Português-Hebraico/Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - 2ª edição,Sefer,2007, SP.
3.Dicionário Didático da Língua Portuguesa, Editora Didática Paulista, SP
4. a Bíblia Sagrada, Edição Contemporânea, Ed. Vida,1997, SP