As forças reprodutivas da natureza eram idolatradas por cultos largamente propagados no Oriente. O ato sexual era cultuado através da prostituição. Esta se tornou um dos graves males espirituais e físicos nos tempos do mundo antigo, mas também foi reforçada por leis tribais que desfavoreciam e desamparavam as mulheres na sociedade.
O forte culto aos deuses da fertilidade caiu em descrédito nas Escrituras logo no início da formação do povo hebreu com o desapontamento de Abrão ao ver sua amada Sara estéril (Gn 11.30). Esse foi um dos motivos que o fez se deslocar de Ur dos caldeus, cidade suméria, para uma terra desconhecida, pois vivia numa comunidade que considerava a falta de filhos uma maldição. Primogênito, Abrão sentia-se obrigado a se casar com outra mulher para dar posteridade aos bens de seu pai Terá. Este, amava tanto ao seu filho que o acompanhou até Harã, onde morreu. ( Leia mais em " Por que Abrão saiu de Ur?") http://telahebraica.blogspot.com.br/2009/12/por-que-abrao-saiu-de-ur.html Parte I
http://telahebraica.blogspot.com.br/2009/12/por-que-abrao-saiu-de-ur-conclusao.html Parte II.
O texto bíblico cita a prostituta apartada para fins religiosos em Gênesis 38.21, I Reis 14.24;15.12 ; I Reis 22.47 e II Reis 23.7. O termo "prostituta" é em hebraico "zonah", e sagrada ou cultual é "k'edeshah". A princípio, o ato sexual era tão cultuado que sequer o homem via o rosto da mulher. Assim aconteceu de Judá não reconhecer Tamar com o seu disfarce e véu no rosto. Prostitutas tinham vestes especiais que a identificavam (Pv. 7.10).
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"Então, ela despiu as vestes de sua viuvez, e, cobrindo-se com um véu, se disfarçou......Vendo-a Judá, teve-a por meretriz; pois ela havia coberto o rosto." Gênesis 38.14,15.
As prostitutas sagradas eram separadas para o serviço sexual no templo. Algumas se tornavam sacerdotisas em cultos de fertilidade e ofereciam sacrifícios a deuses pagãos do amor e da reprodução. Inúmeras estátuas dessas divindades foram encontradas por arqueólogos como Nana - Isthar, herdada dos tempos dos sumérios.
Havia na Lei a proibição enfática da presença de prostitutas no serviço do templo (Dt 23.17) justamente para impedir qualquer associação com os cultos pagãos. Era proibido a oferta de pagamentos vindos de qualquer tipo de prostituição, feminina ou masculina, pois nos povos cananitas o salário do comércio sexual era muitas vezes de animais que eram sacrificados nos templo pagãos. A prática da prostituição era abominável em Israel (Dt 23.18) mas ela existia, e em larga escala.
Sacerdotes eram proibidos de casar com prostitutas, viúvas, desonradas e mulheres repudiadas pelos maridos (Lv.21.7 e 14). Era proibido pais colocarem suas filhas na prostituição (Lev. 19.29). Embora condenados, os serviços dessas mulheres eram bastante procurados (caso de Sansão Juízes16.1; Jefté era filho de prostituta, Juízes 11.1; o povo de Israel com as moabitas em Sitim Nm 25.1). O livro de Provérbios se preocupa em avisar das armadilhas que elas armavam para angariar amantes. Falam de forma suave e sabem elogiar (Pv 2.16 , 7.21, 5.3), são inquietas e circulam por todos os lados (Pv 7.11, 5.6) e não se cansam de seduzir atrevidamente ( Pv 7.13-16). Com as suas ações destroem os bens dos homens (Pv. 5.10), os enlouquecem (Pv. 5.23) e desnorteiam.
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Em tempos de crise econômica, o problema social de mulheres desamparadas pelas leis tribais piorava, aumentando obviamente a prática da prostituição escondida como meio de sobrevivência. As prostitutas tinham acesso aos reis para o julgamento de suas causas ( Ireis 3.16-28 , Salomão e as duas prostitutas) porque os tribunais tribais costumavam rejeitá-las em suas audiências. Estrangeiras, adúlteras e divorciadas eram grandes candidatas à prostituição (Pv 2.16,17) bem como as viúvas que buscavam sustento. Não sabemos a condição de Raabe (Josué 2.1) mas desconfia-se que usava da prostituição como único meio de sobrevivência (Josué 2.11-13) pelo seu temor a D'us e instinto protetor de preservação de seus pais e irmãos.
Nas Escrituras idolatria é sinônimo de prostituição. Esse entendimento reforça a mensagem de Oséias que se casou com uma rameira (Oséias 1.2; 3.3).O casamento com uma prostituta era considerado um ato de resgate, pois retornava à mulher os seus direitos na sociedade.Se tivesse filhos homens poderia até herdar os bens de seus pais ou de seu marido morto se os tivesse. Na verdade o casamento do profeta é uma comparação ao casamento de D'us com Israel prostituída (Isaías 1.21) com outros deuses. Assim como Oséias resgatou uma prostitua, D'us resgatou Israel e lhe devolveu os direitos de herdar a Terra.
O Problema Social das Mulheres no Mundo Antigo
O seguinte grupo de mulheres era prejudicado pelas rigorosas leis nas sociedades do mundo antigo: viúvas (II Reis 4.1), órfãos (incluindo os meninos), bastardas, solteiras recusadas para o casamento, casadas estéreis abandonadas pelos maridos e estrangeiras. Dificilmente essas pessoas tinham direito à herança de seus pais ou aos bens de seus maridos caso estes falecessem. Eram educadas aos cuidados do lar e dos filhos e não se aventuravam nas profissões masculinas como meio de sobrevivência, mesmo porque eram rejeitadas. São repercussões indiretas da Lei da Primogenitura que determinava que toda a herança de uma família deveria ser administrada pelo filho primogênito.Citaremos algumas rendições como Abigail. David casou-se com ela para que pudesse herdar os bens de Nabal. ISm 25.42. Caso não houvesse resgate ela estaria fadada à dependência de ofertas e dízimos (Dt 14.28-29) ou à miséria caso uma cidade desobedecesse a Lei por rebeldia (como foi nos tempos de Isaías e Jeremias). Outro caso famoso, o de Noemi e Rute, que viveram momentos de pobreza mesmo tendo os seus falecidos maridos posses de terras. A situação foi revertida com o casamento de Rute com Boaz, herdando assim, elas as terras de Elimeleque. Com o nascimento de Obede, filho homem, as duas receberam a tranquilidade de serem amparadas por ele em sua velhice:
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"Então as mulheres disseram a Noemi: Seja o Senhor bendito, que não deixou hoje, de te dar um neto que será teu resgatador, e seja afamado em Israel o nome deste. Ele será restaurador da tua vida e consolador da tua velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz, e ela é melhor do que sete filhos. Noemi tomou o menino, e o pôs no regaço, e entrou a cuidar dele." Rute 4.14,15,16.
Neste lindo trecho observamos a alegria das mulheres diante da situação de Noemi, pois todas sabiam que que Obede representava uma confortável aposentadoria!
O caso de Ana, mãe de Samuel (I Sm 1.2) também era dramático. Além da vergonha comprovada de sua esterilidade, pois seu marido tinha filhos com outra mulher, ela tinha grandes chances de ser desamparada pelos herdeiros de sua rival após a morte de Elcana (I Sm 1.6). O presente de D'us foi maior que o encomendado. Após o nascimento de Samuel, filho homem que virou juiz em Israel, ela dispensou a necessidade de dependência das posses de seu marido pelo salário e amparo legal dos serviços no templo. Vemos no seu cântico o seu alívio:
"O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta." I Sm 2.7
O resgate de D'us às viúvas nos tempos dos profetas Elias e Eliseu
Duas viúvas foram amparadas durante períodos difíceis de crise espiritual em Israel. Lembremos que quando havia idolatria e desobediência à Lei, os dízimos e ofertas eram negligenciados, desmantelando o sustento das viúvas, orfãos e estrangeiras.Elias foi guiado por D'us a procurar uma viúva em I Reis 17.9. A época era de seca e maldição consequente do mau governo de Acabe com a influência de sua esposa Jezabel (I Reis16.30-31). O milagre da multiplicação do azeite e da farinha da viúva de Sarepta era símbolo da promessa de resgate que D'us daria ao povo, a começar pelos mais fracos.
"A farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija não faltará, até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra." IReis 17.14
A crise econômica estendeu-se nos tempos de Eliseu por causa das maldades herdadas por Jorão de seu pai Acabe (II Reis 3.2). A viúva de II Reis 4.1-7 também teve o seu azeite multiplicado. Destacamos também o amparo à mulher rica sunamita estéril, que teve com o nascimento de seu filho homem uma garantia de posteridade aos bens do marido (II Reis 4.14). Antes dos sete anos de fome em Israel, ela fugiu para a terra dos filisteus, mas após esse período - não sabemos se já era viúva, pois seu marido era velho - conseguiu recuperar as suas terras sem dificuldades com auxílio divino (II Reis 8.1-6).
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A viuvez, assim como a esterilidade, era uma coisa vergonhosa e censurável (Isaías 54.4)*. Julgava-se que mulheres de mérito e reputação podiam realizar novo casamento, ou na família do falecido, se ele tivesse morrido sem filhos (Lei do Levirato, Dt 25.5-10), ou em qualquer família. Ser viúva dava brechas à impressão de que a mulher podia buscar na prostituição, disfarçada pelo véu, um meio de sobrevivência, enfim, um pensamento cruel como todo preconceito.
*"... não mais te lembrarás da vergonha da tua viuvez." Isaías 54.4
Em épocas de rebeldia à Palavra ( Isaías 1.16-17) os israelitas eram duramente repreendidos por D'us em suas atitudes mesquinhas de não atender às necessidades das viúvas:
"Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos."Isaías 10.2
Nas Escrituras se encontram frequentes mandamentos no sentido de socorrer a viúva e o órfão. Êxodo 22.22; Dt 10.18; 14.29. D'us é chamado "marido da desolada" e prega: "as tuas viúvas confiem em Mim."
(Jr 49.11)
"Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolherás na tua cidade. Então virá o levita ( pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o Senhor, teu D'us, te abençoe, em todas as obras que as tuas mãos fizerem." Dt 14.28-29
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"Alegrar-te-ás perante o Senhor, teu D'us, tu e o teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita que está dentro da tua cidade, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que estão no meio de ti, no lugar que o Senhor, teu D'us escolher para fazer habitar o seu nome."Dt 16.11
O texto a seguir refere-se a Salmos 42.2-4 e é uma homenagem às mulheres:
תהילים מב Tehilim 42
.
Cante Salmos 42.2-4 em hebraico cantado por Irit Bulka:
כְּאַיָּל תַּעֲרֹג עַל-אֲפִיקֵי-מָיִם Keaial ta'arog al 'afikei maim
Como a corça anseia pelas fontes das águas
כֵּן נַפְשִׁי תַעֲרֹג אֵלֶיךָ אֱלֹקים. Ken nafshi ta'arog 'eleicha 'El'okim
Assim minha alma suspira por Ti óh El'him
צָמְאָה נַפְשִׁי לֵאלֹקִים, לְאֵל חָי. Tzam'ah nafshi le'Elokim, le'elchai
Sedenta minha alma (está) De El'him, D'us Vivo!
מָתַי אָבוֹא וְאֵרָאֶה פְּנֵי אֱלֹקים Matai 'avo' ve'era'e f'nei 'Elokim?
Quando virei E aparecerei Diante de El'him?
הָיְתָה-לִּי דִמְעָתִי לֶחֶם, יוֹמָם וָלָיְלָה Hai'etah-li dime'ati lechem, iomam valai'lah
Para mim eram minhas lágrimas sustento dia e noite.
בֶּאֱמֹר אֵלַי כָּל-הַיּוֹם: אַיֵּה אֱלֹקיךָ Be'emor 'elai col-haiom: 'Aieh 'Elokicha?
Escarnecem de mim todo o dia:"Onde está o Teu D'us?"
repita o texto acima e siga
כְּאַיָּל Keaial Como a corça
אֲפִיקֵי-מָיִם 'afikei maim pelas fontes das águas
אֵלֶיךָ אֱלֹקים 'eleicha 'El'okim por Ti óh El'him
צָמְאָה נַפְשִׁי לֵאלֹקִים, לְאֵל חָי Tzama nafshi le'Elokim, le'elchai
Sedenta minha alma (está) De El'him, D'us Vivo!
מָתַי אָבוֹא וְאֵרָאֶה פְּנֵי אֱלֹקים Matai 'avo' ve'era'e f'nei 'Elokim?
Quando virei E aparecerei Diante de El'him?
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הָיְתָה-לִּי דִמְעָתִי לֶחֶם, יוֹמָם וָלָיְלָה Hai'etah-li dime'ati lechem, iomam valai'lah
Para mim eram minhas lágrimas sustento dia e noite.
בֶּאֱמֹר אֵלַי כָּל-הַיּוֹם: אַיֵּה אֱלֹקיךָ Be'emor 'elai col-haiom: 'Aieh 'Elokicha?
Escarnecem de mim todo o dia:"Onde está o Teu D'us?"
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אַיֵּה אֱלֹקיךָ 'Aieh 'Elokicha? "Onde está o Teu D'us?"
1.A Torá Viva - O Pentateuco e as Haftarot - Anotado por Rabino Aryeh Kaplan- Editora Maayanot;
2.Tehilim - Salmos Tradutores: Adolph Wasserman & Chaim Szwertszarf; McKlausen Editora; RJ.
2.Tehilim - Salmos Tradutores: Adolph Wasserman & Chaim Szwertszarf; McKlausen Editora; RJ.
3.Dicionário Português Hebraico e Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - ed. Sêfer
4.Dicionário Hebraico-Português&Aramaico-Português, Sinodal Vozes, 4ª edição, 1994.