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Quem foi Balaão? Bamidbar 22.2 a 25.9 (Parashá Balak)

´ Balaão era midianita,isto é, descendente de um povo gerado pelo casamento de Abraão com Keturá (Gênesis 25.1). Midian se tornou um...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Quem recebeu a Primogenitura de Israel: Judá ou José?

Em Gênesis 48.5 Jacó colocou Efraim e Manassés, filhos mais novo e mais velho de José, respectivamente, no lugar de Rúben e Simeão:

"Agora, pois, os teus dois filhos, que te nasceram na terra do Egito, antes que eu viesse a ti no Egito, são meus; Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão."

E em I Crônicas 5.1-2, um Livro histórico, vemos:

"Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (porque ele era o primogênito, mas, porque profanara a cama de seu pai, deu-se a sua primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; para assim não ser contado na genealogia da primogenitura. Porque Judá foi poderoso entre seus irmãos, e dele provém o príncipe; porém a primogenitura foi de José).

Enquanto José vivia com a sua família, havia a ameaça dele receber a Primogenitura pelas leis do mundo antigo, apesar de ser o mais novo:

"Um filho mais moço de uma primeira mulher e um mais velho de uma segunda mulher, podem dar lugar à dúvida sobre a maneira de se fazer a partilha." (artigo 539 do capítulo XX, do Nono livro de Manu)

Quando Jacó apresentou sinais de dar a José esse direito ao lhe presentear com a *túnica real (Gênesis 37.3), costumeiramente recebida pelo príncipe herdeiro, os seus demais ficaram furiosos:
"Então lhe disseram seus irmãos: Tu, pois deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio
sobre nós? Por isso, tanto mais o aborreciam por seus sonhos e por suas palavras." Gênesis 37.8

Havia também no mundo antigo uma idéia cultural muito forte quanto ao filho mais velho:

Art. 525"Que o filho mais velho, quando o bem não é partilhado, tenha pelos seus jovens irmãos a afeição de um pai pelos seus filhos; estes devem, segundo a lei, se comportar para com ele como para com um pai."Art. 526. "O filho mais velho faz prosperar a família ou a destrói, segundo ele é, virtuoso ou perverso; o mais velho neste mundo é o mais respeitável; o mais velho não é tratado com desprezo pelas pessoas de bem."
art. 527 " o irmão mais velho que se conduz como um primogênito deve fazê-lo, é venerável como um pai ou uma mãe; se ele não se conduz como tal, deve ser respeitado como um presente." (Código de Manu, cap XX).
Vemos aqui um forte questionamento na família de Jacó sobre liderança: o mais velho ou o mais novo com o título de Primogênito?

O Primogênito podia comandar os seus irmãos na ausência do pai, quando este estivesse muito velho ou incapaz. Assim, naturalmente, o Primogênito já assumia os negócios da família e as responsabilidades do patriarca ainda com o pai vivo se fosse virtuoso e de moral inquestionável. A questão de moralidade e liderança entre irmãos mais velhos eram tão respeitada que na conspiração contra José, houve uma hierarquia de ordens entre Rúben e Judá para decidir o que fazer com ele (em Gênesis 37.22-23 acataram a decisão de Rúben de não matar José e jogá-lo dentro do poço; em Gênesis 37.26, na aparente ausência de Rúben, acataram a decisão de Judá em vendê-lo para mercadores midianitas). De acordo com a tradição talmúdica, Simeão e Levi foram os principais conspiradores.

Em Gênesis 42.37 Rúben argumenta com Jacó sobre levar Benjamim para o Egito em busca de comida, e em Gênesis 42.3, Judá é quem argumenta com Jacó.
Assim, após a queda moral de Rúben e o desaparecimento de José, Judá naturalmente foi assumindo a liderança dentre os irmãos, sendo que na migração de toda a família para o Egito por causa da crise mundial, a sua Primogenitura já estava consolidada.

Além de tomar conta das posses e liderar a família, o Primogênito tinha por obrigação preparar o cortejo fúnebre e honrar o patriarca no seu enterro.
Ao terminar a sua vida no Egito após o reencontro, Jacó teve que realizar um "acordo diplomático" de herança entre José, já escolhido no episódio da manta real e o seu sucessor na liderança da família, Judá(Gênesis 46.28).
José recebeu a Primogenitura oficial porque tornou-se responsável pelo sustento de toda a família(Gênesis 47.12) e pelo enterro de Jacó fora do Egito (Gênesis 47.30).

Mas Judá recebeu a Primogenitura espiritual com uma benção de liderança sobre os seus irmãos e as tribos de Israel (Gênesis49.8), confirmada por Assaf em Salmos 78:

וַיִּמְאַס בְּאֹהֶל יוֹסֵף

וּבְשֵׁבֶט אֶפְרַיִם לֹא בָחָר

וַיִּבְחַר אֶת-שֵׁבֶט יְהוּדָה אֶת-הַר צִיּוֹן אֲשֶׁר אָהֵב


"Ele desprezou a tenda de José, a tribo de Efraim Ele não escolheu. Mas escolheu a tribo de Judá, o monte Sion que ele ama." v.67-68

Observações no texto hebraico:
Judá pode ter se tornado juiz em Israel ( Gênesis 49.10 "a legislação", no hebraico"me-chokek", tem conotação tanto de lei quanto de escrita, daí alguns traduzem como "pena de um escriba" ou "a pena da lei escrita". Ele pode ter sido o responsável em registrar e lavrar a Primogenitura de José). Judá pode também ter influenciado o patriarca a evitar incluir o seu nome no livro da contagem da genealogia de Primogenitura porque o seu primogênito, Er, havia morrido, podendo haver questionamentos sobre os gêmeos que teve com Tamar. Também não tinha condições financeiras de patrocinar a viagem de cortejo fúnebre do pai, obrigação de um primogênito.

* Túnica colorida, em hebraico "ketonet passim", era uma vestimenta real, IISamuel 13.18;
a palavra"passim" pode ser traduzida para "colorida","bordada","com figuras" ou "em faixas". Alternativamente, a palavra denota o material do qual o manto era feito, que era de lã fina ou seda, daí "ketonet passim" pode ser traduzido como "um manto de amplas mangas","um traje de muitas cores", "um traje até os pés", "uma túnica ornamentada", "um manto de seda", ou " um traje de lã fina".

Prof.ª Gláucia Vilela
Bibliografia:
A Torá Viva - O Pentateuco e as Haftarot - Anotado por Rabino Aryeh Kaplan- Editora Maayanot;
DTehilim - Salmos Tradutores: Adolph Wasserman & Chaim Szwertszarf; McKlausen Editora; RJ.
Dicionário Português Hebraico e Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - ed. Sêfer

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Como a Serpente engana o Homem? (Gênesis 3.15)

my.opera.com/.../archive/monthly/?day=20090901 A imagem não é de Eva, é sim de Lilith, uma personagem do folclore popular hebreu medieval associada à Serpente.
No contexto a situação era a seguinte: a Serpente ( do hebraico"nahash") é apresentada como
o mais astuto ( " 'arus", ou esperto) dos animais do campo, e usa de argumentos numa conversa com a mulher com o objetivo de desorganizar a relação do Criador com o Homem.

Os judeus associam a palavra astuto ("'arus") à palavra grega "eros" ( de "erótico"ou "nudez"), já que muitas palavras gregas são de origem semita.
Isso quer dizer que a Serpente, sendo astuta, induz à nudez. Ela faz com que o Homem cometa o erro e que as consequências do mesmo fiquem bem visíveis, tornando-o envergonhado e "nu".

Após consumada a desobediência, a Serpente recebeu outra característica no seu castigo: passa a rastejar. (Gênesis 3.14). Essa é a pista importante para a interpretação do versículo seguinte, que no hebraico está nessa disposição:

וְאֵיבָה אָשִׁית

"E ódio plantarei

בֵּינְךָ וּבֵין הָאִשָּׁה

entre tu (você masculino) e entre a mulher

וּבֵין זַרְעֲךָ

e entre a sua semente ( "zerá" pode ser também: descendente, sêmen, filho)

וּבֵין זַרְעָהּ

e entre a semente dela

הוּא יְשׁוּפְךָ רֹאשׁ

Ele pisará a sua cabeça

וְאַתָּה תְּשׁוּפֶנּוּ עָקֵב

e tu (você) golpearás o seu calcanhar.


Na rivalidade o verbo tanto usado para "Ele" e "tu" é o mesmo: "shuf", que pode ser traduzido como "pisar, atacar, limar,friccionar,raspar." O radical é parecido com "shofet", juiz, árbitro.
Um atacaria a cabeça e o outro o calcanhar do inimigo.

Quem é "Ele"? Entendemos que somente um Ser Divino seria capaz de esmagar totalmente a influência da mente astuta e maligna de uma Serpente, pisando-a num golpe mortal.

Com relação à palavra "calcanhar" do hebraico "'akev", muito nos lembra a história de "Yakov",
ou Jacó, que recebeu esse nome porque nasceu segurando o calcanhar de seu irmão Esaú. (Gênesis 25.26). A palavra "'akev" também pode ser traduzida como "passos". Jacó veio atrás dos passos de Esaú com astúcia, garantindo confusão e benefícios da Primogenitura para si.

Para o caso da Serpente, a melhor tradução do verbo para a sua ação seria "limar, friccinar, raspar" os "passos" (e não o calcanhar) do Messias.

Assim, o castigo de Gênesis 3.15 não estaria direcionado a uma ferida direta no Descendente da mulher e sim uma deturpação de Seus passos pelo rastejar da Serpente, atrapalhando o Homem de encontrar a Salvação seguindo-O.


Proposta de tradução:
"Ele pisará a sua cabeça, e tu rasparás os seus passos."
Bibliografia:
A Torá Viva - O Pentateuco e as Haftarot - Anotado por Rabino Aryeh Kaplan- Editora Maayanot;
Dicionário Português Hebraico e Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - ed. Sêfer


Prof.ª Gláucia Vilela

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Judá e o pecado que matou Onan - Gênesis 38.9-10 - Parte I

Mais um texto que deve ser interpretado com a ajuda de conceitos jurídicos que regiam a época dos Patriarcas.

Judá, pai de Onan, era o quarto dos doze filhos homens que Jacó teve. Lia, sua mãe, havia concebido antes, três meninos: Rúben, Simeão, Levi.

O direito à Primogenitura pertencia a Rúben se ele fosse "iminentemente virtuoso" para tomar posse do rico patrimônio de Israel em sua totalidade ( artigo 522, do capítulo XX, do Livro Nono do Código de Manu).


O pecado que fez Rúben perder o direito à Primogenitura (Gênesis 35.22)

Segundo a tradição Talmúdica, após a morte de sua amada Raquel, Jacó colocou sua cama na tenda da serva Bilá. Rúben então removeu-a para a tenda de sua mãe, Lia. Entende-se também que Rúben deitou-se com Bilá, profanando-a e impedindo que Jacó se aproximasse novamente da serva de Raquel. De qualquer forma, essa discussão familiar foi grave a tal ponto de fazê-lo perder os seus direitos de filho mais velho, oficialmente em Gênesis 49.3-4:

"Rúben, tu és meu primogênito, minha força e o início da minha maturidade, primeiro em distinção e primeiro em força. Mas porque tu foste instável como água, tu não serás mais o primeiro. Isso porque tu mudaste as camas de teu pai, cometendo um ato profano. Ele mudou minha cama!"

Simeão e Levi também perderam o direito à Primogenitura:

Segundo e terceiro filhos respectivamente, também perderam o direito à Primogenitura em Gênesis 34 matando covardemente os varões da cidade de Siquém em defesa da honra de sua irmã desflorada, Diná:

"Simeão e Levi são um par (irmãos); instrumentos de crime são suas armas. Que minha alma não entre na trama deles; que meu espírito não se una com a assembléia deles - pois mataram homens com raiva, desmembraram bois com vontade. Maldita seja a cólera deles, pois ela é feroz, e sua fúria, pois ela é cruel. Eu os dispersarei em Jacó, os espalharei em Israel."(Gênesis 49.5-7)

Judá, o quarto filho de Israel, recebeu o direito da Primogenitura, passando a comandar os patrimônios da família, sendo também o participante na sucessão divina da genealogia do Messias:

"Judá, teus irmãos se submeterão a ti. Tua mão estará sobre o pescoço de teus inimigos; os filhos de teu pai se inclinarão a ti. Jovem leão, Judá, tu te ergueste da presa, meu flho. Ele se agacha, deita como um leão, como um temível leão, quem ousará erguê-lo?

O cetro não se afastará de Judá, nem a legislação de seus descendentes."

Quando Jacó proferiu a "benção da herança" antes de sua morte, todos estavam no Egito, em dificuldades financeiras por conta da seca e aos cuidados de José (Gênesis 47.28). Mas Judá,
extra oficialmente já havia recebido o prêmio de Primogênito.

Assim, ao se distanciar da confusão com seus *irmãos após a venda de José ao Egito, e se casar com a filha de um mercador cananeu (Gênesis 38.1) , Judá já era considerado um Príncipe, o verdadeiro herdeiro de Israel.


(continua)
* tramavam a morte de José porque percebiam juridicamente a possibilidade de transferência do direito à Primogenitura para ele, filho mais velho de Raquel, já que os filhos mais velhos de Lia não estavam aptos; a manta dada por Jacó e os sonhos de José reforçaram essa teoria.
link sobre Primogenitura:
Países que ainda adotam a Lei Primogenitura:

"Primogenitura (ou mais apropriadamente primogenitura masculina) é um mecanismo através do qual os descendentes do sexo masculino de um soberano têm precedência sobre descendentes do sexo feminino, e onde as linhagens mais antigas têm precedência sobre as mais jovens, em cada género. Os filhos mais velhos têm sempre precedência sobre os filhos mais novos. Os filhos mais jovens têm sempre precedência sobre as filhas mais velhas. O direito das sucessões pertence sempre ao filho mais velho do soberano reinante (ver herdeiro aparente), e, depois, para o filho mais velho do filho mais velho. Este é o sistema utilizado no Reino Unido, Espanha e Mónaco.
Outros membros com títulos nobiliárquicos seguem esse sistema de filhos e filhas, mas são considerados iguais como co-herdeiros, pelo menos na prática na Bretanha moderna. Isto pode resultar na condição conhecida como suspenso. No período medieval, a prática efectiva variava consoante os locais e costumes. Embora as mulheres pudessem herdar casas senhoriais, esse poder era geralmente exercido pelos seus maridos (jure uxoris) ou pelos seus filhos (jure matris).

Primogenitura absoluta ou igualitária
A primogenitura igualitária (ou primogenitura absoluta) é uma lei em que o filho mais velho do soberano sucede ao trono, independentemente do sexo, e onde mulheres (e seus descendentes) gozam dos mesmos direitos de sucessão como do sexo masculino. Este é actualmente o sistema na Suécia (desde 1980), Países Baixos (desde 1983), Noruega (desde 1990) e Bélgica (desde 1991). Foi proposto mudar a linha de sucessão ao trono britânico para a primogenitura absoluta em 2004.
Prof.ª Gláucia Vilela

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Segredo da Felicidade está em Salmos 1

(Felicidades) אַשְׁרֵי
הָאִישׁ  (do homem)
 אֲשֶׁר לֹא הָלַךְ בַּעֲצַת רְשָׁעִים וּבְדֶרֶךְ חַטָּאִים, לֹא עָמָד וּבְמוֹשַׁב לֵצִים לֹא יָשָׁב. 2 כִּי אִם בְּתוֹרַת יְהוָה חֶפְצוֹ; וּבְתוֹרָתוֹ יֶהְגֶּה יוֹמָם וָלָיְלָה
Educadores recomendam que a melhor forma de livrar os jovens e adolescentes da rebeldia é zelar por suas companhias. A imaturidade os inclina a selecionar, admirar e seguir os conselhos de amigos de influência engraçada e forte que trazem os enganosos encantos do mundo.

A introdução de Tehilim completa que o homem é educado pelas suas companhias e pela leitura da Torá. Se a fórmula da felicidade e da prosperidade está em seguir esses dois passos, por que tem muito gente insatisfeita com a vida?

A resposta está no texto: a recompensa vem em tempo próprio.

Os resultados não são instantâneos, e muitas vezes parecem que não serão colhidos quando vemos a rapidez com que os ímpios prosperam. A comparação com a árvore implantada próxima a correntes de águas lembra daquelas que demoram mais de dez anos para frutificarem, mas suas folhas são vistosas mesmo assim.

Todos os Salmos, menos trinta e quatro deles, são antecedidos por um título, por exemplo:

1. "Um Salmo de David...." em tal situação (ocorre em 73 Salmos) ou "Uma prece de David." (Salmos 17);

2." Uma prece do homem aflito quando desfalece e emana sua súplica diante do Senhor" (Salmos 102);

3. Indicando um direcionamento do texto, "Para o condutor..."; " Um maskil para Eitan.." (Salmos 89)

4. Citando a autoria: "Um Cântico de Assaf" (introduz doze Salmos), "Uma prece de Moisés..." (Salmos 90); dos "filhos de Coré" ( introduz doze Salmos); de "Salomão" (introduz dois) ;

5. Informando o objetivo do texto: "Um cântico com acompanhamento musical para o dia de Shabat" (92).


Salmos 1 não tem frase introdutória, porque ele é a introdução dos 150 Salmos.
Salmos 2 não tem frase introdutória porque pode ser continuação de Salmos 1 ou porque é a introdução da primeira das cinco divisões do Livro de Salmos, isto é, ele pode ser a introdução dos Salmos 3 a 41.

Essas introduções são antigüíssimas, antecedem à Septuaginta, mas não pertencem ao texto original. Elas são dignas de consideração porque fazem parte de antiga tradição judaica que estudou e dividiu Tehilim em cinco partes, cada uma correspondendo a cada livro do Pentateuco.

A tradução para Salmos 1.1-2:

"Felicidades,

v.1 O homem feliz não andou em reunião de malvados, (ou "as Felicidades do homem")

(e) no caminho de pecadores (fracassados) não parou,

e na *morada de **maldosos não habitou (sentou).


v.2 Já que na Lei (Torá) do Senhor está seu desejo (querer) e na Sua Lei
medita (corrige erros) dia e noite."


*morada - a palavra hebraica "moshav" descreve também uma sede, assento ou um tipo de colônia agrícola cooperativa".

**maldosos - a palavra hebraica "letzim" é também traduzida para "palhaços".

Observe os verbos no tempo completo (pret. perf.) no v.1 e incompleto no v.2.


Prof.ª Gláucia Vilela


Bibliografia

Tehilim - Salmos Tradutores: Adolph Wasserman & Chaim Szwertszarf; McKlausen Editora; RJ.

Dicionário Hebraico- Português, Português- Hebraico; Abraham Hatzamri & Shoshana More-Hatzamri; 2ª ed.Sefer;SP.

Comentário Bíblico Moody, Volume 5; Charles F. Pfeiffer e Everett F. Harrison; IBR; SP.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Esaú e Jacó - Como se vende uma Primogenitura?

(Imagem: Faboarts)
Segundo as leis que dominavam o mundo antigo, Esaú teria o direito de dominar sobre os bens de Isaac, segundo a Sucessão Hereditária, pois era o primogênito:

"Art.522. Mas , o mais velho, quando ele é eminentemente virtuoso, pode tomar posse do patrimônio em sua totalidade; e os outros irmãos devem viver sob sua tutela, como viviam sob a do pai." (Código de Manu, Nono Livro, XX).

Cabe aqui ressaltar novamente, que a Lei de Moisés ainda não havia sido organizada, e que os povos do mundo antigo tinham que ter códigos de comportamento para se organizarem como sociedade, com direito a tribunais e juízes para fazê-los cumprir.

A Lei da Primogenitura, muito bem exemplificada no episódio da "venda" entre Esaú e Jacó em Gênesis 25. 24-34, reflete a influência forte de antigos códigos orientais sobre as leis da boa convivência entre os patriarcas de Israel.

" Então disse Jacó: Vende-me hoje a tua primogenitura." v.31

A primogenitura significava o direito de posse, domínio e decisão sobre o futuro das propriedades da família para o filho mais velho.

Esaú agiu de forma incoerente desprezando esse direito, mas bem sabia que para que o "negócio" fosse realmente fechado, teria que ter a aprovação e benção do pai.

Se Esaú recebesse a benção de primogênito, o negócio com Jacó seria claramente desfeito.
O que ele não contava era com o plano arquitetado de sua mãe para desviá-la para o seu irmão mais novo.

Muitos criticam a atitude de Rebeca, mas Esaú havia se casado com mulheres estrangeiras,
pondo em risco os bens da família, podendo fortalecer as propriedades de nações pagãs, ao invés de expandir as heranças dos israelitas. As mulheres que eram "amargura de espírito" (Gênesis 26.35) para Isaac e sua esposa tinham grande influência sobre Esaú a tal ponto de prejudicar até a herança de Jacó.

Portanto, Rebeca agiu em defesa das propriedades da família.

O que constitui a benção de Primogênito?

Está bem claro nas palavras de Isaac para Jacó em Gênesis 27.29
"... sê senhor de seus irmãos, e os filhos da tua mãe se encurvem a ti."

Com ela o filho mais velho manda e desmanda em tudo, e comanda a divisão dos bens após a morte do patriarca, podendo deixar os irmãos sem nada.

Um final intrigante e lindo:

Depois de muita confusão e tempo, ninguém mais precisava do dinheiro do pai.

Quando Isaac morreu, Jacó não precisava mais das riquezas que o seu direito à Primogenitura lhe concedia, apenas impediu que Esaú dominasse sobre tudo com a influência de suas esposas.

Quando se reencontraram em Gênesis 33, os dois irmãos eram tão ricos que o patrimônio do pai
ficou pequeno diante de sua fortuna:

"Mas Esaú disse: Eu tenho bastante, meu irmão; seja para ti o que tens." v.9

E Jacó devolveu a benção de seu pai para Esaú:

"Toma, peço-te, a minha benção, que te foi trazida; porque D'us graciosamente ma tem dado; e porque tenho de tudo." v.11

Assim fizeram as pazes.


Prof. Gláucia Vilela.
Obs: A Lei de Moisés anulou a instituição da Primogenitura, mantendo para o primogênito apenas um privilégio: receber tudo em dobro.
.A Torá Viva- Anotado por Rabino Aryeh Kaplan, Editora Maayanot,2003,SP.*
2.Dicionário Português-Hebraico/Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - 2ª edição,Sefer,2007, SP.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Por que Abrão saiu de Ur? (conclusão)




No mundo antigo existiam leis que regiam a sociedade antes da elaboração das leis de Moisés.


No Museu do Louvre, em Paris, está uma estela (pedra vertical com inscrições) que contém uma das leis mais antigas da história do mundo antigo: o Código de Hamurabi. Embora não esteja em Bagdá, esse achado arqueológico é citado no Museu Virtual do Iraque pela sua importância e porque foi encontrado em escavações na cidade de Susã, antiga capital da Pérsia.


Havia uma lei que exerceu grande influência na vida dos patriarcas. A Lei de Primogenitura bem explicada no Nono Livro do Código de Manu, que foi elaborado com influências de leis mais antigas do Código de Hamurabi e do código hebreu, (Da Sucessão Hereditária, capítulo XX, artigos 521 a 636) dita: "Mas, se o mais velho, quando ele é eminentemente virtuoso, pode tomar posse do patrimônio em sua totalidade; e os outros irmãos devem viver sob sua tutela, como viviam sob a do pai."(art.522)..."o filho mais velho deve ter tudo." (art.523).

Terá teve três filhos: Abrão, Naor e Harã, que faleceu, mas deixou um filho, Lot. (Gênesis 11.27-30)

Abrão era o primogênito e desde pequeno foi preparado para administrar os bens da família. Mas após casar-se, descobriu que Sarai, seu grande amor, era estéril. Além do desapontamento de toda a expectativa sobre ele, havia uma ameaça ao patrimônio familiar, pois um "homem se torna pai e paga sua dívida para com seus antepassados."(art.523). Isso quer dizer que Abrão só poderia chefiar as posses de Terá se tivesse um filho.

Atos de amor na família de Abrão

1.Abrão recusou a opção de casar-se com outra mulher para gerar um filho porque amava muito a Sarai;

2. Terá amava muito a Abrão, pois além de respeitar a sua decisão de não se casar com outra mulher, abandonou Ur dos Caldeus em busca de riquezas para o seu primogênito, deixando o seu patrimônio com Naor, o segundo sucessor da herança por lei;

3. Terá amou a Lot, e não abandonou também o seu neto órfão, fadado a morrer pobre.

4. Abrão compreendeu perfeitamente a abnegação de seu pai, que na velhice saiu de sua terra para incentivá-lo a buscar novas formas de montar um patrimônio próprio;

5. Terá faleceu em Harã, lançando Abrão num túnel de profunda tristeza e desamparo.
(Gênesis 11.32)

O chamado de Abrão ocorreu após a morte de seu pai Terá (Gênesis 12.1), e além de agir como um consolo foi a substituição da promessa de um pai terreno pela Promessa de um Pai celestial,
D'us Único (Echad).

Profª. Gláucia Vilela

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Chanuká e o Milagre do Azeite



Chanuká 2009 / 5770
11-18 de dezembro, 2009 – 25 de Kislêv - 2 de Tevet




No dia 11 de dezembro de 2009 foi acessa a primeira vela da Festa das Luzes no mundo israelita. É tempo de Chanuká!


"Hanu" quer dizer "descansaram", se referindo aos Macabeus após as batalhas no "cá" , 25º dia de Kislev.


A história dessa festividade relembra os tempos em que Antíoco, rei da Síria, governou a Terra de Israel, após a morte de Alexandre, o Grande. Seu governo foi marcado pela exigência de que todos os judeus seguissem a cultura greco-helenista, proibindo-os de cultuarem ao D'us de Israel e forçando-os a idolatrarem os deuses pagãos.


Daniel, à beira do rio Hidequel, no exílio babilônico, foi avisado desses acontecimentos por um "homem" vestido de linho com lombos cingidos de ouro fino (Daniel 10.4).

O mundo do profeta estava passando por um período de transição do domínio Babilônico para o domínio Persa. O povo de Israel não sabia o que ocorreria com eles e muitos se desviaram das leis da Torah.

O que o D'us queria que Daniel soubesse é que Israel ainda sofreria com uma sucessão de guerras e disputas de reis no mundo, retratada no capítulo 11. Após o domínio persa, eles ainda passariam pelo governo grego, que seria repartido e disputado pelos reino do Norte(Síria) e Sul (Egito), através de líderes corruptos e maus.


Antíoco, foi um desses reis, que profanou o Templo reconstruído, proibiu "o sacrifício contínuo, estabelecendo a abominação desoladora" (Dn11.32).


A mensagem de esperança estava "no povo que conhece ao seu D'us" que "se tornará forte e fará proezas" (Dn11.32). Mas nessa época difícil, "os entendidos ensinarão a muitos", mas também passariam por grandes lutas "para serem provados, purificados, e embranquecidos, até ao fim do tempo..." (Dn11.35).

Em 165 AC, os Macabeus, corajosos lutadores oriundos de uma família de muita fé, os Chashmonaim, apesar do antagonismo esmagador, saíram vitoriosos de uma batalha travada contra o inimigo. O Templo Sagrado, violado pelos rituais greco-pagãos, foi novamente purificado e consagrado. A Menorá (candelabro) foi reacesa com o azeite puro de oliva, descoberto no Templo. A quantidade de azeite encontrada era suficiente para manter as luzes acessas por um dia, mas milagrosamente durou 8 dias, até que um novo óleo puro pudesse ser produzido e trazido ao Templo. Em lembrança destes milagres comemoramos Chanucá durante oito dias.


A imagem acima foi retirada do link http://www.myspace.com/111632217,
e retrata o costume de se comer sonhos em Chanuká, porque precisam de óleo/azeite para serem cozidos.


Profª. Gláucia Vilela